A Evolução da Doutrina Espírita

13/01/2014 16:07
 
    Os espíritas, em sua quase totalidade, ainda não conseguiram compreender alguns princípios fundamentais do desenvolvimento de nossa Doutrina e são afoitos na interpretação dos postulados aceitos.
    Não se dão ao trabalho de analisar as palavras de Kardec, apesar de repetirem insistentemente a palavra Kardec, Kardec, Kardec, Kardec...
    Caso nossos dirigentes agissem com mais responsabilidade, compreenderiam que nossa Doutrina ainda está se desenvolvendo, compreenderiam que Kardec apenas construiu uma base sólida para se assentar os desenvolvimentos posteriores. Veja suas próprias palavras a respeito.
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Projeto 1868
 
    Um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade. O único meio de evitá-la, senão quanto ao presente, pelo menos quanto ao futuro, é formulá-la em todas as suas partes e até nos mais mínimos detalhes, com tanta precisão e clareza, que impossível se torne qualquer interpretação divergente.
Obras Póstumas, F.E.B.,pag. 409.
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    Infelizmente; este conselho foi oficialmente ignorado, como tantos outros. Observe que ele se refere à unidade das ideias e hoje se busca apenas a unidade política, pois, entre aqueles que falam em unificação, ninguém mais se interessa pelas ideias sob as quais se fará esta unificação; quanto ao conselho para se formular as ideias com precisão e clareza, este também é sistematicamente ignorado; em nosso Movimento, a leviandade na colocação de ideias chega à irresponsabilidade e ao absurdo. 
    Talvez você não compreenda o que estou dizendo, caso isso esteja acontecendo, só lhe resta uma coisa a fazer: livrar-se das influências perniciosas que o influenciam e estudar, raciocinar e ter a coragem de definir suas próprias ideias e, assim, lutar contra as deturpações criminosas que foram introduzidas.
    Aquilo que surgiu como deturpação doutrinária é o que constituem, hoje, os motivos de interesse em nosso Movimento; infelizmente.
    No decorrer de nossos estudos você compreenderá tudo o que estou dizendo.
    Temos a obrigação moral de reparar os erros que foram introduzidos, impedir os que estão sendo introduzidos, e trazer de volta nossa Doutrina ao seu verdadeiro fundamento.
    Vejamos a colocação da F.E.B., de outras palavras de um autor desconhecido que encerra o Projeto 1868:
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    A Constituição do Espiritismo, Allan Kardec a inseriu na Revista de dezembro de 1868, mas sem os comentários que lhe acrescentou antes de morrer e que reproduzimos textualmente. A morte corpórea o deteve, quando se preparava para formular os Princípios fundamentais da Doutrina Espírita reconhecidos como verdades definitivas, o que os nossos leitores certamente lamentarão, como nós, porquanto esses princípios teriam completado aquela constituição por meio de apreciações lógicas e judiciosas. É o último manuscrito do Mestre e nós o lemos com profundo respeito.
Obras Póstumas, F.E.B.,pag. 414.
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    O texto anterior, evidentemente não foi escrito por Kardec, e não foi informado pela editora da F.E.B., qual foi o autor.
   Aqui nós não vamos nos interessar pelos Princípios fundamentais da Doutrina Espírita reconhecidos como verdades definitivas, mesmo porque nós não temos condições intelectuais para compreendermos as “verdades definitivas”,como também não a tinha, o próprio Kardec, nem o autor deste texto.
    Na edição traduzida por Salvador Gentile e editada pelo Instituto de Difusão Espírita, a ideia é diferente; veja a ideia diferente apresentada:
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    A morte corpórea deteve-o quando se preparava para traçar os Princípios Fundamentais da Doutrina Espírita reconhecidos como verdades adquiridas.
Obras Póstumas, I.D.E.,pag. 332.
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    Seja quem for que tenha escrito este texto, a ideia do autor foi deturpada por uma ou por outra das duas editoras ou tradutores, porém, o bom senso nos leva ao texto do I.D.E., pois, ele nos fala em verdades adquiridas, e não em verdades definitivas. As duas ideias expostas são radicalmente diferentes.
    Kardec trabalhava neste projeto quando desencarnou, portanto, todas as Obras Básicas já estavam prontas e são as que conhecemos. Veja abaixo o que ele escreveu sobre a Evolução da Doutrina.
 
Constituição do Espiritismo
 
    EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
    § I — CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
    O Espiritismo teve, como todas as coisas, o seu período de gestação e,enquanto todas as questões, principais e acessórias, que dele derivam não se acharem resolvidas, somente pode dar resultados incompletos.Entreviu-se-lhe a finalidade, pressentiram-se-lhe as conseqüências, mas apenas de modo vago. Da incerteza sobre pontos ainda não determinados haviam forçosamente de nascer divergências sobre a maneira de os considerar; a unificação tinha que ser obra do tempo e se efetuou gradualmente à medida que os princípios se foram elucidando. Unicamente quando tiver desenvolvido todas as partes em que se desdobra é que a Doutrina formará um todo harmônico e só então se poderá julgar do que é o Espiritismo.
Obras Póstumas, F.E.B.,pag. 415.
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    Raciocine, nossa Doutrina ainda aguarda o desenvolvimento de todas as partes em que se desdobra, portanto, nossa interpretação atual é muito deficiente; nossa Doutrina será ampliada por séculos afora; no momento, nossa maior preocupação, no momento, é tirá-la da estagnação doentia, em que se encontra; justamente por isso eu o convido a levar a sério o estudo, caso você queira ser útil de algum modo, mesmo porque, para ser inútil, e atrapalhar, qualquer ignorante serve.
    Eu o convido: Venha estudar e exercitar seu discernimento; vamos trabalhar para desenvolver todas as partes em que nossa Doutrina se desdobra, só então saberemos, realmente, o que é o Espiritismo.
    Muita paz e amor para você.
    Recordemos O Espírito Verdade:
    Espíritas! Amai-vos; este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.
Pedro Pereira da Silva Neto